“Tal como a situação imaginária tem de ter regras de comportamento também todo o jogo com regras contém uma situação imaginária”
Vygotsky
Ao jogar, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende, negoceia e, sobretudo, estimula a curiosidade, a auto-confiança e a autonomia. Aprende a conviver em grupo e a lidar com frustrações quando não ganha o jogo, apura a concentração e a atenção sobre tudo o que se está a passar à sua volta. Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança.
O Jogo traduz o real para o que se passa no mundo infantil. Quando brinca, a criança apura o intelecto e a sensibilidade. É muito importante que os adultos respeitem a ludicidade, pois é o espaço para a expressão mais genuína do ser. É o espaço e o direito que a criança tem para o exercício da relação afectiva com o mundo, com as pessoas e com os objectos que a rodeiam.
Uma boneca de trapos pode ser uma boa companheira. Uma bola é um convite ao exercício motor, um quebra-cabeças desafia a inteligência e um colar faz a menina sentir-se bonita e importante como a mãe.
Quando vejo os meus meninos no Baú das Trapalhadas, vejo que encarnam personagens do seu dia-a-dia. Um dia, observei uma das meninas a mandar o resto do grupo sentar-se e a dizer: ”A Móita vai quever o nome dus meninos” e “Não se corre depexa! Ai que a Móita não qué!”.
É bem verdade que os problemas que surgem durante as brincadeiras, fazem a criança crescer e ter de procurar a solução. “A Móita não qué! E agóa??” “Agóa…vamos ter de correr devagar”, diz quem encarna a personagem de Móita.
Mas quando falamos em jogar, não é apenas com puzzles, torres de legos ou brincadeiras do faz-de-conta. Também podemos jogar com livros. Livros que se desdobram em mil e uma janelas, livros que se dobram e desdobram. Livros que nos permitem fazer um jogo de adivinhas e de conhecimento.
O livro A Lagarta Comilona explica, a jogar, o processo de desenvolvimento da lagarta até se transformar numa linda borboleta. A jogar, abrimos uma página e salta de lá dentro uma lagarta dominhoca, comilona e desejosa de ter asas para poder voar, leve como um dente-de-leão, no céu. A jogar, a criança apre(e)nde todo este processo, interiorizando naturalmente toda esta aprendizagem, vendo, observando as ilustrações e querendo imitar o que se passa no livro, por exemplo, batendo as asas como um pássaro.
Quem é o meu tesouro?, apela para a perspicácia e intuição da criança, jogando. Primeiro, lendo as pistas para a solução da charada, depois observando as ilustrações para conseguir adivinhar qual o animal a que corresponde toda a descrição da charada. Todo este processo de memorização e de assimilação, faz com que a criança jogue com o livro.
No livro, Shhh!, o Pai Natal joga com as crianças, quando voa pelo céu no seu trenó cheio de presentes, acompanhado das suas simpáticas renas. Mostra às crianças, o entusiamo e o nervosismo do Pai Natal em querer distribuir todos os presentes a horas. A jogar, a criança percebe que pode fazer as suas tarefas sem pressas.
O Jogo também está associado à autonomia. Deixar a criança fazer,é meio caminho andado para que ela perceba que não depende do adulto para tudo. Por outro lado, a presença do adulto desafia a criança a querer mostrar que sabe e que é capaz de jogar com alguém maior do que ela.
O momento em que a criança está a jogar pode ser mágico e precioso!
Boas brincadeiras!
Mónica Semedo, Educadora de Infância
Deixe um comentário